SOBRE O PROJETO
O projeto CONFRONTO DE IDEIAS visa oferecer um espaço público, de acesso livre e gratuito, aberto à reflexão e ao debate em torno de questões polêmicas na sociedade, que nem sempre são contempladas pelas pesquisas universitárias na esfera local, ou, quando são, não chegam a ser socializadas extra-muros. Neste sentido, o projeto costuma pautar sua agenda a partir de sugestões feitas pelo público que participa e prestigia nossas atividades. A cada programação, novas consultas são feitas e agendadas para os períodos seguintes. Nossa agenda também é pensada a partir de uma espécie de “radar sociológico” acionado pela equipe do projeto, que capta as ondas dissonantes e conflituosas na sociedade contemporânea e os vazios na esfera pública e/ou acadêmica.
O projeto parte do princípio de que, na sociedade, é mais sábio e ético confrontarmos nossas ideias divergentes, de forma argumentativa e criativa, do que confrontarmos os nossos corpos... É mais desafiador e instigante o debate do que sucumbir silenciosamente ao pensamento único, à imposição de ideias-feitas que circulam de forma hegemônica na sociedade. E para que isso aconteça, é preciso que se multipliquem os espaços públicos com esta finalidade.
Portanto, a filosofia que rege o projeto Confronto de Ideias não é acadêmica stricto sensu, ou seja, o objetivo não é “divulgar resultados de pesquisas para a comunidade”, pois a Universidade já tem os seus espaços consagrados para esta missão, mas trazer pesquisadores ao encontro das pessoas comuns, estudantes e professores em geral, não necessariamente universitários, para pensar conjuntamente problemáticas sociais e políticas que podem vir a ser acolhidas pelas agendas de futuras pesquisas, ou não. O objetivo maior que procuramos alcançar é o encontro entre as pessoas desejantes de pensar, a sociabilidade ativa, a compreensão das coisas pela via da escuta, da fala, da interrogação, da dúvida, do questionamento. Acreditamos que, sendo a Universidade pública, é desejável que se faça isso de forma sistemática para que ela se afirme democrática.
Outras particularidades que gostaríamos de destacar:
1º) o projeto preza por uma abordagem transversal das questões elencadas a cada programação, acolhendo entre os seus convidados pensadores e pensadoras de diferentes formações e trajetórias, inclusive autodidatas e não acadêmicas, ou seja, quem tem algo a dizer com pertinência e profundidade, mas que não encontrou acolhida nos espaços consagrados dos especialistas no campo da ciência e da filosofia.
2º) Nós entendemos a Extensão Universitária como uma via de mão dupla, uma ação dialética: a extensão não se faz apenas quando a Universidade vai ao encontro da sociedade, mas quando traz para dentro do seu território os que estão sendo mantidos fora dela, ou que a acessaram um dia, a abandonaram ou não tiveram a oportunidade de voltar.
3º) O Confronto de Ideias trabalha à margem do evento científico e da sala de aula, visando não ao Ensino stricto sensu, mas à formação crítica dos que se interessam pelas questões abordadas nas suas programações. Neste sentido, ele se propõe a alargar o papel da extensão universitária, inclusive como campo de estágio para o estudante universitário e secundarista.
Por fim, é de bom tom dizer que não inventamos a roda. Descobrimos há poucos dias que intelectuais cariocas que se definiam como “pesquisadores associados em Ciências Sociais”: sociólogos, cientistas políticos, historiadores, geógrafos e filósofos, criaram em 1977 o grupo socii (“companheiros” em latim), sediado na Rua República do Líbano, nº 918/Rio, que tinha entre seus objetivos “a integração do saber com a comunidade e a busca de uma circulação mais ampla do pensamento crítico e transformador da realidade social, de modo a romper com todo isolamento do trabalho científico em relação às camadas populares”. Essa estratégia revela como intelectuais se movimentavam na resistência à ditadura civil-militar... Portanto, a recente descoberta desta afinidade só nos alegra! Integravam este grupo nomes muito conhecidos, como Gisálio Cerqueira Filho, Vanilda Paiva e Michel Misse, na época editor e conselheiros da coleção de livro de bolso, textos paralelos, edições achiamé/socii.
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